Aparte aquelles sonhos vulgares


Aparte aquelles sonhos vulgares, que são as vergonhas correntes das alfurjas da alma, que ninguem ousará confessar, e opprimem as vigilias como phantasmas sujos, viscosidades e borbulhas sebentas da sensibilidade reprimida, o que [de] ridiculo, o que de apavorador, e indizivel, a alma pode, ainda que com esforço, reconhecer nos seus recantos!

A alma humana é um manicomio de caricaturas. Se uma alma pudesse revelar-se com verdade, nem houvesse um pudor mais profundo que todas as vergonhas conhecidas e definidas, seria, como dizem da verdade, um poço, mas um poço sinistro cheio de echos vagos, habitado por vidas ignobeis, viscosidades sem vida, lesmas sem ser, ranho da subjectividade.


Título: Aparte aquelles sonhos vulgares
Heterónimo: Não atribuído
Número: 202
Página: 201
Data: 1929 (low)
Nota: [1-18r];