Aparte aquelles sonhos vulgares


Aparte aquelles sonhos vulgares, que
são as vergonhas correntes das alfurjas
da alma, que ninguem ousará confessar, e
opprimem as vigilias como phantasmas su-
jos, viscosidades e borbulhas sebentas da
sensibilidade reprimida, o que [de] ridiculo,
o que de apavorador, e indizivel, a alma
pode, ainda que com exforço, reconhecer
nos seus recantos!


A alma humana é um manicomio de carica-
turas. Se uma alma pudesse revelar-se com
verdade, nem houvesse um pudor mais profun-
do que todas as vergonhas conhecidas e de-
finidas, seria, como dizem da verdade, um
poço, mas um poço sinistro cheio de ec-
hos vagos, habitado por vidas ignobeis,
viscosidades sem vida, lesmas sem ser, ra-
nho da subjectividade.


Identificação: bn-acpc-e-e3-1-1-89_0037_18_t24-C-R0150
Heterónimo: Não atribuído
Formato: Folha (21.4cm X 13.7cm)
Material: Papel
Colunas: 1
LdoD Mark: Sem marca LdoD
Datiloscrito (black-ink) : Testemunho datiloscrito a tinta preta
Data: 1929 (low)
Nota: , Texto escrito no recto de uma folha inteira.
Fac-símiles: BNP/E3, 1-18r.1