L. do D.
e do alto da majestade de
todos os sonhos, ajudante de
guarda-livros na cidade de
Lisboa.
Mas o contraste não me esmaga —
liberta-me; e a ironia que ha
nelle é sangue meu. O que
devera humilhar-me é a
minha bandeira, que desfraldo; e
o riso, com que deveria rir de
mim, é um clarim com que
saúdo e gero ∧crio uma ∧a alvorada
em que me faço ∧converto.
A gloria ∧nocturna de ser grande não
sendo nada! A majestade ∧sombria de ∧esplendor
desconhecido... E sinto, de repente,
o sublime do monge no ermo, e
do eremita no retiro, inteirado
da substancia do Christo nas pedras ∧nos areaes e
nas cavernas do afastamento ∧que são a estatuaria vazia
do mundo.
E na meza do meu
quarto abrumado,
reles, empregado, e
anonymo,
escrevo
palavras como a
salvação da alma e
douro-me do poente impossivel
de
∧pinaculos ∧altos vastos e
∧ ∧longínquos, da minha
∧estola ∧recebida
por prazeres,
e do annel de
renuncia em
meu dedo evange-
lico, joia parada
do meu desdem ∧desprezo
extatico.