e do alto da majestade


L. do D.

e do alto da majestade de
todos os sonhos, ajudante de
guarda-livros na cidade de
Lisboa.

Mas o contraste não me esmaga —
liberta-me; e a ironia que ha
nelle é sangue meu. O que
devera humilhar-me é a
minha bandeira, que desfraldo; e
o riso, com que deveria rir de
mim, é um clarim com que
saúdo e gero crio uma a alvorada
em que me faço converto.

A gloria nocturna de ser grande não
sendo nada! A majestade sombria de esplendor
desconhecido... E sinto, de repente,
o sublime do monge no ermo, e
do eremita no retiro, inteirado
da substancia do Christo nas pedras nos areaes e
nas cavernas do afastamento que são a estatuaria vazia
do mundo.

E na meza do meu
quarto abrumado,
reles, empregado, e
anonymo, escrevo
palavras como a
salvação da alma e
douro-me do poente impossivel
de
pinaculos altos vastos e
longínquos, da minha
estola recebida
por prazeres,
e do annel de
renuncia em
meu dedo evange-
lico, joia parada
do meu desdem desprezo
extatico.


Identificação: bn-acpc-e-e3-1-1-89_0119_59_t24-C-R0150
Heterónimo: Não atribuído
Formato: Folha (27.6cm X 19.4cm)
Material: Papel
Colunas: 1
LdoD Mark: Com marca LdoD
Manuscrito (pen) : Testemunho manuscrito a tinta preta.
Nota: LdoD, Texto escrito no verso de uma folha do impresso 'Sobre um Manifesto de Estudantes'.
Fac-símiles: BNP/E3, 1-59r.1