As coisas mais simples


As coisas mais simples, mais realmente simples, que nada pode tornar semi-simples, torna-mas complexas o eu vivê-las.

Dar a alguém os bons-dias por vezes intimida-me. Seca-se-me a voz como se houvesse uma audácia estranha em ter essas palavras em voz alta. É uma espécie de pudor de existir — /não tem outro nome!/

A análise temperamental das nossas sensações cria um modo novo de sentir que parece artificial a quem análise só com a inteligência, que não com a própria sensação.

Toda a vida fui fútil metafisicamente, sério a brincar. Nada fiz a sério, por mais que quisesse. Divertiu-se em mim comigo um Destino /malin/.

Ter emoções de chita, ou de seda, ou de brocado! Ter emoções descritíveis assim! Ter emoções descritíveis!


Título: As coisas mais simples
Heterónimo: Bernardo Soares
Número: 718
Página: 579
Nota: [2-21, ms.];
Nota: Teresa Sobral Cunha edita só uma parte do texto do testemunho 2-21v. A segunda parte é integrada no texto do testemunho 2-21r.