Jacinto do Prado Coelho - edição anotada - Usa Jacinto do Prado Coelho(303)

As cousas mais simples


As cousas mais simples, mais realmente simples, que nada pode tornar semi-simples, torna-m'as complexas o eu vivel-as. Dar a alguem os bons dias, por vezes intimida-me. Secca-se-me a voz, como se houvesse uma audacia extranha em ter essas palavras em voz alta. É uma especie de pudor de existir — /não tem outro nome!/

A analyse /constante/ das nossas sensações cria um modo novo do sentir, que parece artificial a quem analyse só com a intelligencia, que não com a propria sensação.

Toda a vida fui futil metaphysicamente, serio a brincar. Nada fiz a serio, por mais que quizesse. Divertiu-se em mim comigo um Destino /malin/.

Ter emoções de chita, ou de seda, ou de brocado! Ter emoções descriptiveis assim! Ter emoções descriptiveis!

Sobe por mim na alma um arrependimento que é de Deus por tudo, uma paixão surda de lagrimas pela condenação dos sonhos na carne dos que os sonharam... E odeio sem odio todos os poetas que escreveram versos / todos os idealistas que fizeram ver o seu ideal, todos os que conseguiram o que queriam /.

Vagueio indefinidamente nas ruas socegadas, ando até cansar o corpo em accordo com a alma, doe-me até aquelle extremo da dôr conhecida que tem um goso em sentir-se, uma compaixão materna por si-mesma, que é musicada e indefinivel.

Dormir! Adormecer! Socegar! Ser uma consciencia abstracta de respirar socegadamente, sem mundo, sem astros, sem alma — mar morto de emoção reflectindo uma ausencia de estrellas!