O céu do estio prolongado todos os dias


O céu do estio prolongado todos os dias despertava de azul verde baço, e breve se tornava de azul acinzentado de branco mudo. No ocidente, porém, era da cor que lhe costumam chamar, a ele todo.

Dizer a verdade, encontrar o que se espera, negar a ilusão de tudo — quantos o usam na subsidência e no declive, e como os nomes ilustres mancham de maiúsculas, como as de terras geográficas, as agudezas das páginas sóbrias e lidas!

Cosmorama de acontecer amanhã o que não poderia ter sucedido nunca! Lápis-lazúli das emoções descontínuas! Quantas memórias alberga uma suposição factícia, lembras- te, visão somente? E num delírio intersticiado de certezas, leve, breve, suave, o murmúrio da água de todos os parques nasce, emoção, do fundo da minha consciência de mim. Sem ninguém os bancos antigos, e as áleas alastram onde eles estão a sua melancolia de arruamentos vazios.

Noite em Heliopólis! Noite em Heliopólis! Noite em Heliopólis! Quem me dirá as palavras inúteis, me compensará a sangue e indecisão?


Título: O céu do estio prolongado todos os dias
Heterónimo: Bernardo Soares
Número: 440
Página: 393
Nota: [3-28, dact.];