O céu do estio prolongado


O céu do estio prolongado todos os dias dispertava de azul verde baço, e breve se tornava de azul acinzentado de branco mudo. No occidente, porem, era da côr que lhe costumam chamar, a elle todo.

Dizer a verdade, encontrar o que se espera, negar a illusão de tudo — quantos o usam na subsidencia e no declive, e como os nomes illustres mancham de maiusculas, como as de terras geographicas, as agudezas das paginas sobrias e lidas!

Cosmorama de acontecer amanhã o que não poderia ter succedido nunca! Lapiz-lazuli das emoções descontinuas! Quantas memorias alberga uma supposição facticia, lembras- te, visão sòmente? E num delirio intersticiado de certezas, leve, breve, suave, o murmurio da agua de todos os parques nasce, emoção, do fundo da minha consciencia de mim. Sem ninguem os bancos antigos, e as aleas alastram onde elles estão a sua melancholia de arruamentos vazios.

Noite em Heliopolis! Noite em Heliopolis! Noite em Heliopolis! Quem te dirá as palavras inuteis, me compensará a sangue e indecisão?


Título: O céu do estio prolongado
Heterónimo: Bernardo Soares
Volume: I
Número: 98
Página: 102
Nota: [3-28, dact.];