Com que luxúria ☐ transcendente eu


Com que luxúria ☐ transcendente eu, às vezes, passeando de noite nas ruas da cidade e fitando, de dentro da alma, as linhas dos edifícios, as diferenças das construções, as minuciosidades da sua arquitectura, a luz em algumas janelas, os vasos com plantas fazendo irregularidades nas sacadas — contemplando tudo isto, dizia, com que gozo de intuição me subia aos lábios da consciência este grito de redenção: mas nada disto é real!


Título: Com que luxúria ☐ transcendente eu
Heterónimo: Bernardo Soares
Número: 226
Página: 231
Nota: [14(2)-55, ms.];