L; do D.
Todo o homem de hoje, em quem a estatura
moral e o relevo intellectual não sejam de
pygmeu ou de charro, ama, quando ama, com o amor
romantico. O amor romantico é um producto ex-
tremo de seculos sobre seculos de influencia
christan; e, tanto quanto á sua substancia,
como quanto á sequencia do seu desenvolvimento,
pode ser dado a conhecer a quem não o perceba
comparando-o com uma veste, ou traje, que a al-
ma ou a imaginação fabriquem para com elle ves-
tir as creaturas, que acaso appareçam, e o es-
pirito ache que lhes cabe.
Mas todo o trage, como não é eterno, dura
tanto quanto dura; e em breve, sob a veste do
ideal que formámos, que se esfacela, surge o
corpo real da pessoa humana, em quem o vestimos.
O amor romantico, portanto, é um caminho
de desillusão. Só o não é quando a desillusão,
acceite desde o principio, decide variar de i-
deal constantemente, tecer constantemente, nas
officinas da alma, novos trages, com que consta
ntemente se renove o aspecto da creatura, por
elles vestida.