Lenda Imperial
L. do D.
Lenda Imperial.
Minha Imaginação é uma cidade no Oriente. Toda a
sua composição de realidade no espaço tem a voluptuosidade
de superficie de um tapete rico e molle. As turbas que multi-
coloram as suas ruas destacam-se sobre não sei que fundo
que não é o d'ellas como bordados de amarello ou vermelho
sobre setins azul clarissimo. Toda a historia pregressa d'essa
cidade vôa em torno á lampada do meu sonho como
uma borboleta apenas ouvida na penumbra do ∧da quarto ∧alma ∧mar ∧calma alcova que a escuta.
Minha phantasia habitou entre pompas outr'ora e
recebeu das mãos de rainhas joias veladas de anti-
guidade. Atapetaram mollezas intimas os areaes
da minha inexistencia e, halitos de penumbras, as
algas boiaram á ostensiva dos meus rios. Fui
porisso porticos em civilizações perdidas, febres de
arabescos em frizos mortos, ennegrecimentos de
eternidade nos colleios das columnas partidas, mastros
apenas nos naufragios remotos, degraus só de thronos
abatidos, veus nada velando, e como que velando
sombras, phantasmas erguidos do chão como fumos de
thuribulos arremessados.
Funesto foi o meu reinado
e cheia de guerras nas fronteiras longinquas a minha
paz imperial no meu palacio. Proximo sempre o
ruido indeciso das festas affastadas; procissões sempre
para ir passar por sob as minhas janellas; mas nem
peixes de ouro encarnado nas minhas piscinas, nem pomos
entre as verduras paradas do meu pomar; nem mesmo,
pobres choupanas onde os outros são felizes, ∧o fumo de
chaminés de além de arvores adormeceu com balladas
de simplicidade o mysterio congenito ∧(inquieto) da
minha consciencia de mim ∧alma.
Sim ∧o racional é real, e o
real racional. Deus é
[um grande] hegeliano ∧E é-o [não
só na obscuridade do modo
como expõe o mundo, mas
tambem na propria essencia
do seu pensamento-cousas].