Sonho triangular


Sonho triangular

A luz tornara-se de um amarello exaggeradamente lento, de um amarello sujo de lividez. Haviam crescido os intervallos entre as cousas, e os sons, mais espaçados de uma maneira nova davam-se desligadamente. Quando se ouviam acabavam de repente, como que cortados. O calôr, que parecia ter augmentado, parecia estar, elle calôr, frio. Pela leve frincha das portas encostadas da janella via-se a attitude de exaggerada expectativa da unica arvore visivel. O seu verde era outro. O silencio entrara-lhe com a côr. Na atmosphera haviam-se fechado pétalas. E na propria composição do espaço uma interrelação differente de qualquer cousa como planos havia alterado e quebrado o modo dos sons, das luzes e das côres usarem a extensão.


Título: Sonho triangular
Heterónimo: Bernardo Soares
Volume: I
Número: 108
Página: 113 - 114
Nota: [8-11, dact.];