SONHO TRIANGULAR | A luz tornara-se de um amarelo


SONHO TRIANGULAR

A luz tornara-se de um amarelo exageradamente lento, de um amarelo sujo de lividez. Haviam crescido os intervalos entre as coisas, e os sons, mais espaçados de uma maneira nova, davam-se desligadamente. Quando se ouviam, acabavam de repente, como que cortados. O calor, que parecia ter aumentado, parecia estar, ele calor, frio. Pela leve frincha das portas encostadas da janela via-se a atitude de exagerada expectativa da única árvore visível. O seu verde era outro. O silêncio entrara-lhe com a cor. Na atmosfera haviam-se fechado pétalas.

E na própria composição do espaço uma inter-relação diferente de qualquer coisa como planos havia alterado e quebrado o modo dos sons, das luzes e das cores usarem a extensão.


Título: SONHO TRIANGULAR | A luz tornara-se de um amarelo
Heterónimo: Vicente Guedes
Número: 64
Página: 93
Nota: [8-11, dact.];Teresa Sobral Cunha edita este texto como parte da sequência 'SONHO TRIANGULAR' (2008: 93-94).;