Amor - Usa Jerónimo Pizarro(56)

Maximas


L. do D.

Maximas

— Ter opiniões definidas e certas, instinctos, paixões e caracter fixo e conhecido – tudo isto monta ao horror de tornar a nossa alma um facto, de a materializar e tornar exterior. Viver n'um doce e fluido estado de desconhecimento das cousas e de si proprio / é o unico modo-de-vida que a um sabio convém e aquece /.

— Saber interpôr-se constantemente entre si-proprio e as cousas é o mais alto grau de sabedoria e prudencia.

— A nossa personalidade deve ser indevassavel, mesmo por nós-proprios: d'ahi o nosso dever de sonharmos sempre, e incluirmo-nos nos nossos sonhos, para que nos não seja possivel ter opiniões a nosso respeito.

E especialmente devemos evitar a invasão da nossa personalidade pelos outros. Todo o interesse alheio por nós é uma indelicadeza grave. O que livra a vulgar saudação — como está? — de ser uma indesculpavel grosseria é o ser ella em geral absolutamente ôca e insincera.

──────────

— Amar é cansar-se de estar só: é uma cobardia portanto, e uma traição a nós-proprios. (Importa soberanamente que não amemos).

─────

— Dar bons conselhos é não respeitar a faculdade de errar que Deus deu aos outros. E, de mais a mais, os actos alheios devem ter a vantagem de não serem tambem nossos. Apenas é comprehensivel que se peça conselhos aos outros — para saber bem, ao agir ao contrario, quem somos bem nós, bem em desaccordo com a Outragem.

──────────

— A unica vantagem de estudar é gosar o quanto os outros não disseram.

─────

— A arte é um isolamento. Todo o artista deve buscar isolar os outros, levar-lhes ás almas o desejo de estarem sós. O triumpho supremo de um artista é quando a ler suas obras o leitor prefere tel-as e não as lêr. Não é porque isto aconteça aos consagrados; / é porque é o maior tributo / ☐

─────

— Ser lucido é estar indisposto comsigo proprio. O legitimo estado de espirito com respeito a olhar para dentro de si-proprio é o estado / ☐ de quem olha nervos e indecisões. /

─────

A unica attitude intellectual digna de uma creatura superior é a de uma calma e fria compaixão por tudo quanto não é elle-proprio. Não que essa attitude tenha o minimo cunho de justa e verdadeira; / mas é tão invejável que é preciso tel-a. /

──────────