Escrevo com uma extranha magua


Escrevo com uma extranha
magua, servo de uma
sufocação intelectual, que
me vem da perfeição
da tarde. Este ceu de
azul precioso, desmaiando
para tons de cor de
rosa pallido sob uma
brisa egual e branda,
dá-me á consciencia
de mim uma vontade
de eu gritar. Estou
escrevendo, afinal, por
fuga e refúgio. Evito
as idéas. Esqueço as
expressões exactas, e
elas abrilham-se-me no
acto physico de escrever,

como se a mesma penna as produzisse.

Do que pensei, do
que senti, sobrevive,
obscura, uma
vontade inutil
de chorar.

Não é nada a manhã.
É só um tempo
É só uma



Identificação: bn-acpc-e-e3-60a-1-51_0044_22v_t24-C-R0150 | bn-acpc-e-e3-60a-1-51_0043_22_t24-C-R0150
Heterónimo: Não atribuído
Formato: Folha (14.0cm X 21.4cm)
Material: Papel
Colunas: 2
LdoD Mark: Sem marca LdoD
Manuscrito (pencil) : Testemunho manuscrito a lápis.
Data: 24-07-1930 (medium)
Nota: , Texto escrito em recto e verso de meia folha de papel fino, dobrada em quatro. No rosto encontra-se o poema "Brisa Irreal da aurora", datado de 24/7/1930 e publicado na edição crítica de Fernando Pessoa Vol.I, Tomo III. Este poema é do ortónimo Fernando Pessoa. Na coluna direita da folha encontramos um outro fragmento a lápis e algumas linhas soltas a tinta preta: "Não é nada a manhã | É só um tempo | É só uma ☐".
Fac-símiles: BNP/E3, 60A-22.1 , BNP/E3, 60A-22.2