A TRAGÉDIA DO ESPELHO | O homem não deve poder ver


O homem não deve poder ver a sua própria cara. Isso é o que há de mais terrível. A Natureza deu-lhe o dom de não a poder ver, assim como o de não poder fitar os seus próprios olhos.

Só na água dos rios e dos lagos ele podia fitar seu rosto. E a postura, mesmo, que tinha de tomar, era simbólica. Tinha de se curvar, de se baixar para cometer a ignonímia de se ver.

O criador do espelho envenenou a alma humana.


Título: A TRAGÉDIA DO ESPELHO | O homem não deve poder ver
Heterónimo: Vicente Guedes
Número: 304
Página: 246
Nota: [5-35, ms.];
Nota: Teresa Sobral Cunha edita este texto na sequência 'A TRAGÉDIA DO ESPELHO' (2008: 244-246).