Trazei vós o pallio de ouro


Trazei vós o pallio de ouro e morte, cavalleiros da decifração inutil. A sangue e rosas lembrae o sonho inutil que se estiolou nos jarros, antes da mão branca que os soltasse. Pizae leve no assento das sêdas, a sala queda, no antebaile do tedio, na hora mortiça dos candelabros claros, no xarão das pedrarias fechadas á chave e aborrecimento.

Quem vós ereis, senhor, ficou entre as sereias, no esquecimento lunar dos mares mortos. Ouviu as canções da doença das aguas, que não chegam á lua senão por desejo, e desfolhou, uma a uma, as rosas no jardim do palacio do conseguimento interrompido. O som de violões de haver melhores cousas affastou a attenção dos seus ouvidos das palavras imperiaes entre rumores. A vossa mão deixou a mão do que interrompe, porque foi preciso irmos mais a[o] perto da lonjura trazida por suspiros. O lago entre arvores era como um sonho de agua no meio de arvoredos de ilhas, e o vazio era como um ☐

Hora de luar parado ao acontecimento nuvem, o céu incerto e a passagem de pagens ☐


Título: Trazei vós o pallio de ouro
Heterónimo: Não atribuído
Número: 576
Página: 511
Data: 1918 (low)
Nota: [138-61r];
Nota: Jerónimo Pizarro edita este texto em apêndice, no conjunto "Textos sem destinação certa inventariados fora do núcleo" (2010: 490-516).