Agir é intervir
Agir é intervir. Um braço que se estende
occupa espaço e torna-se, assim, uma esculptura
metaphysica. Nunca pude deixar de dar a este
facto insignificante uma importancia alada
sobre [o] quotidiano.
Nunca vi em mim senão uma romaria de inconsciencias
para o outomno das minhas intenções. As ∧longas horas que tenho
passado á beira do meu correr teem-me cançados rios sobre [a] existência.
Com os meus passos treme a luz das
estrellas. Um gesto da minha mão, que
me occulta a lua um momento, ∧mostra,
com este ∧meu assombro, quanto pode
realmente significar. De estes pensa-
mentos, tornados domesticos e quotidianos
ao meu escrupulo, adveio ao meu
instincto que elle naufragasse no porto.
Pareceu-me sempre que ser era ousar; que
querer era aventurar-se. Inercia sou-
be-me a santidade, e não-
querer a ter bons-costumes. Construi-me
assim uma moral burgueza ∧media do pensa-
mento, um cuidado da comodidade
e da decencia atravez do respeito
do mysterio. A exaggerada consciencia,
que sempre tive, dos meus momentos,
doeu-me sempre a mysterio e a divino.
Nunca me comprehendi, sobretudo quando
me surprehendi a viver as inconsciencias
dos meus instinctos e a vulgar correcção
dos meus reflexos nervosos.