Tenho as opiniões


Tenho as opiniões mais desencontradas, as crenças mais diversas. É que nunca penso, nem fallo, nem ajo... Pensa, falla, age por mim sempre um sonho qualquér meu, em que me encarno de momento. Vou a fallar e fallo /eu-outro/. De meu, só sinto uma incapacidade enorme, um vácuo immenso, uma incompetencia ante tudo q[uan]to é a vida. Não sei os gestos a acto nenhum real, ☐

Nunca aprendi a existir.

Tudo que quero consigo, logo que seja dentro de mim.

Se me perguntardez se sou feliz, responder-vos-hei que o não sou (I[ntervallo] Dol[oroso])
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Quero que a leitura d'este livro vos deixe a impressão de terdes atravessado em pesadello voluptuoso.
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O que antes era moral, é esthetico hoje para nós... O que era social é hoje individual...
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Para quê olhar para os crepusculos se tenho em mim milhares de crepusculos diversos — alguns dos quaes que o não são — e se, além de os olhar dentro de mim, eu proprio os sou, por dentro e por fóra?


Título: Tenho as opiniões
Heterónimo: Não atribuído
Número: 53
Página: 62 - 63
Data: 1914 (low)
Nota: [144D(2)-44v e 45r];