As Trez Portas da Cidade


As Trez Portas da Cidade.

Ha só trez cousas que libertam do
burguezismo, da banalidade: o tedio, o
mysticismo, o raciocinio — um porque acha
tudo ôco, outro porque acha a tudo artisticamente
um outro e intimo sentido, e o terceiro
porque destroe tudo e se absorve nas suas analyses
ininterruptas, e contraria por systema e
interpretação o analisado.

A arte não: o burguez gosta do bello. Um bello inferior?
Seja o que fôr, gosta do bello. (Gostar do feio pode ser até
um modo de revolta contra o burguez por a
originalidade do gosto como Baudelaire
tentou)
O tedio differe do aborrecimento. (Como a
preguiça da abulia. (Como uma furia
da zanga, de um
acesso de loucura)
Uma cousa contraria o sentido
de poder e querer sahir d'ella, a visão do contrario. O tedio
não, penetra até ao sonho)

A distracção?
Nunca.


Identificação: bn-acpc-e-e3-14-2-1-101_0029_14a-R0150
Heterónimo: Não atribuído
Formato: Folha (8.3cm X 12.0cm)
Material: Papel
Colunas: 1
LdoD Mark: Sem marca LdoD
Manuscrito (pen) : Testemunho manuscrito a tinta preta.
Nota: , Texto escrito no recto de uma folha dobrada em bifólio. Apenas Teresa Sobral Cunha inclui este texto no corpus do "Livro do Desassossego". Texto retirado do corpus na edição de 2013.
Fac-símiles: BNP/E3, 14(2)-14a.1