Tive sempre, confesso, uma grande simpatia


Tive sempre, confesso, uma grande simpatia pelos traidores e pelas nações capazes de os produzir em abundância. O traidor é um individualista extremo que acima do laço apertado do sentimento da pátria — tão natural e tão instintivo — põe, por lucro ou ganho, a sua personalidade individual.

A Inglaterra tem muitos germanófilos — germanófilos ingleses, entenda-se. Na França, entre franceses, creio que não haverá um germanófilo. Basta isto para provar a superioridade da civilização inglesa à civilização da França.

Um país que, produzindo patriotas e soldados, produz também antipatriotas e traidores, é isso que é um país todo unido em torno à humanidade que o representa.


Título: Tive sempre, confesso, uma grande simpatia
Heterónimo: Vicente Guedes
Número: 275
Página: 231 - 232
Nota: [133D-45, ms.];
Nota: Apenas Teresa Sobral Cunha inclui este texto no corpus do "Livro do Desassossego". Texto retirado do corpus na edição de 2013.