Paysagem de chuva
L. do D.
Em cada pingo de chuva a minha vida falhada chora na natureza. Ha qualquér cousa do meu desassocego no gota a gota, na bátega a bátega com que a tristeza do dia se destorna inutilmente /por/ sobre a terra.
Chove tanto, tanto. A minha alma é húmida de ouvil-o. Tanto... A minha carne é liquida e aquosa em torno á m[inha] sensação d'ella.
Um frio desassocegado põe mãos gelidas em torno ao meu pobre coração. As horas cinzentas e ☐ alongam-se, emplaniciam-se no tempo; os momentos arrastam-se.
Como chove!
As biqueiras golfam torrentes minimas de aguas sempre subitas. Desce pelo /meu saber que/ ha canos um barulho perturbador de descida de agua. Bate contra a vidraça, indolente, gemedoramente a chuva; na ☐
Uma mão fria aperta-me a garganta e não me deixa respirar a vida.
Tudo morre em mim, mesmo o saber que posso sonhar! De nenhum modo physico estou bem. Todas as maciezas em que me reclino teem arestas para a minh'alma. Todos os olhares para onde olho estão tão escuros de lhes bater esta luz empobrecida do dia para se morrer sem dôr.