Não fizeram, Senhor, as vossas naus



Não fizeram, Senhor, as vossas naus viagem mais primeira que a que o meu pensamento, na /derrota/ deste livro, conseguiu. Cabo não dobraram, nem praia viram mais afastada, tanto da audácia dos audazes como da imaginação dos /por ousar/, igual aos cabos que dobrei com a minha meditação, e às praias a que, com o meu (...), fiz aportar o meu esforço.

Por vosso início, Senhor, se descobriu o Mundo Real; por meu o Mundo Intelectual se descobrirá.

Arcaram os vossos argonautas com monstros e medos.

Também, na viagem do meu pensamento, tive monstros e medos com que arcar. No caminho para o abismo abstracto, que está no fundo das coisas, há horrores, que passar, que os homens do mundo não imaginam, e medos que ter que a experiência humana não conhece; é mais humano talvez o cabo para o lugar indefinido do mar comum do que a senda abstracta para o vácuo do mundo.

Apartados do uso dos seus lares, exuis do caminho das suas casas, viúvos para sempre da brandura de a vida ser a mesma, chegaram por fim os vossos emissários, vós já morto, ao /extremo/ oceânico da Terra. Viram, no material, um novo céu e uma terra nova.

Eu, longe dos caminhos de mim próprio, cego da visão da vida que amo, (...) cheguei por fim, também, ao extremo vazio das coisas, à borda imponderável do limite dos entes, à porta sem lugar do abismo abstracto do Mundo.

Entrei, senhor, essa Porta. Vagueei, senhor, por esse mar. Fitei, senhor, esse abismo que se não pode ver.

Ponho esta obra de Descoberta suprema na invocação do vosso nome português, criador de argonautas.