Tomei por exemplares, na maneira de escrever



Tomei por exemplares, na maneira de escrever, todos aqueles dos antigos que nos ensinaram a pensar antes de dizer, e a pensar o que foi pensado para que o que disséssemos valesse a pena ser dito; e quanto à maneira de expor o que escrevi, não descurei ter por mestres aqueles que, em épocas mais felizes da especulação, e mais /oportunos/ no sossego, tiveram por vil a obra mal composta e por indigno de ciência [...] e por esquecimento da própria ignorância.

Assim, na orientação dos antigos, alguma coisa hauri da sua mente e da sua sabedoria; alguma coisa, porventura, em não faltar ao seu guia de composição e à sua ciência do raciocínio.

Como toda a disciplina é ao mesmo tempo uma ciência e uma maneira de fazer ciência, toda a composição científica deve, ao mesmo tempo que ensina a matéria que expõe, não deixar de ensinar a parte, também, em ser-se mestre: todo o professor o é não só do que ensina, mas também da maneira de ensinar.

Pouco que houvesse aprendido neles, no raciocínio e seu pensar, a própria origem dos teoristas traz o mundo passado no próprio pensamento.