"De que é que você se está a rir?" |
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António Rito Silva (ars)
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... como uma criança que pára de correr |
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... reles como os fins da vida que vivemos |
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A Armando Cortes-Rodrigues, em 19 de Novembro de 1914 |
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A leve embriaguez da febre ligeira |
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A vida pode ser sentida como uma náusea |
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A vida é para nós o que concebemos nela |
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A vida é uma viagem experimental |
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Amo, pelas tardes demoradas de verão |
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As carroças da rua ronronam |
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As coisas sonhadas só têm o lado de cá |
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Cada vez que o meu propósito se ergueu |
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Como uma esperança negra |
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Conheço, translata, a sensação de ter comido |
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Depois de uma noite mal dormida |
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Depois que as últimas chuvas passaram |
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Depois que o calor cessou |
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Depois que os últimos pingos da chuva |
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Desde o princípio baço do dia quente |
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Doem-me a cabeça e o universo |
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E, hoje, pensando no que tem sido a minha vida |
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Encaro serenamente |
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Enrolar o mundo à roda dos nossos dedos |
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Escrevo com uma estranha mágoa |
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Floresce alto na solidão nocturna |
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Há momentos em que tudo cansa |
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Há muito tempo que não escrevo |
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Há mágoas íntimas que não sabemos distinguir |
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Há sensações que são sonos |
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Há sossegos do campo na cidade |
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Há um sono da atenção voluntária |
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Já me cansa a rua |
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Lento, no luar lá fora da noite lenta |
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MILÍMETROS |
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Na grande claridade do dia |
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Na minha alma ignóbil e profunda registo |
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Na perfeição nítida do dia |
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Nesta era metálica dos bárbaros |
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Nos primeiros dias do outono subitamente entrado |
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Nunca durmo: vivo e sonho |
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Não sei o que é o tempo |
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Não sei porquê — noto-o subitamente |
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Não sei quantos terão contemplado |
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O calor, como uma roupa invisível |
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O céu negro ao fundo do sul do Tejo |
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O olfacto é uma vista estranha |
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O que há de mais reles nos sonhos |
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O relógio que está lá para trás |
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O silêncio que sai do som da chuva espalha-se |
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Onde está Deus, mesmo que não exista? |
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Os classificadores de coisas |
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Paisagens inúteis como aquelas que dão a volta |
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Quando durmo muitos sonhos |
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Quando o estio entra entristeço |
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Quantas vezes, presa da superfície e do bruxedo |
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Quem quisesse fazer um catálogo de monstros |
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Quem sou eu para mim? |
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Releio, em uma destas sonolências sem sono |
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Sabendo como as coisas mais pequenas |
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Saber que será má a obra |
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Surge dos lados do oriente |
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Tenho mais pena dos que sonham o provável |
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Três dias seguidos de calor sem calma |
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Tudo se me tornou insuportável |
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Tão dado como sou ao tédio |
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UM DIA (zig-zag) |
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[PAISAGEM DE] CHUVA [E, por fim — vejo-o] |
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Às vezes, sem que o espere |
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É uma oleografia sem remédio |
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