O homem vulgar, por mais dura
L. do D.
O homem vulgar, por mais dura que lhe seja
a vida, tem ao menos a felicidade de a não pensar.
Viver a vida decorrentemente, exteriormente,
como um gato ou um cão — assim fazem os homens ge-
raes, e assim se deve viver a vida para que possa
contar a satisfacção do gato e do cão.
Pensar é destruir. O proprio processo do pensa-
mento o indica para o mesmo pensamento, porque pen-
sar é decompor. Se os homens soubessem meditar no
mysterio da vida, se soubessem sentir as mil comple-
xidades que espiam a alma em cada pormenor da ac-
ção, não agiriam nunca, não viveriam até. Matar-se-
hiam de assustados, como os que se suicidam para não
ser guilhotinados no dia seguinte.