O homem vulgar, por mais dura


L. do D.

O homem vulgar, por mais dura que lhe seja
a vida, tem ao menos a felicidade de a não pensar.
Viver a vida decorrentemente, exteriormente,
como um gato ou um cão — assim fazem os homens ge-
raes, e assim se deve viver a vida para que possa
contar a satisfacção do gato e do cão.

Pensar é destruir. O proprio processo do pensa-
mento o indica para o mesmo pensamento, porque pen-
sar é decompor. Se os homens soubessem meditar no
mysterio da vida, se soubessem sentir as mil comple-
xidades que espiam a alma em cada pormenor da ac-
ção, não agiriam nunca, não viveriam até. Matar-se-
hiam de assustados, como os que se suicidam para não
ser guilhotinados no dia seguinte.


Identificação: bn-acpc-e-e3-1-1-89_0087_43_t24-C-R0150
Heterónimo: Não atribuído
Formato: Folha (27.4cm X 21.3cm)
Material: Papel
Colunas: 1
LdoD Mark: Com marca LdoD
Datiloscrito (black-ink) : Testemunho datiloscrito a tinta preta.
Data: 1930 (low)
Nota: LdoD, Texto escrito no recto de uma folha inteira.
Fac-símiles: BNP/E3, 1-43r.1