O patrão Vasques


L. do D. (continuação)

Ah, comprehendo! O patrão Vasques é a Vida. A Vida,
monotona e necessaria, mandante e desconhecida. Este ho-
mem banal representa a banalidade da Vida. Elle é tudo
para mim, por fóra, porque a Vida é tudo para mim por fó-
ra.

E, se o escriptorio da Rua dos Douradores representa
para mim a vida, este meu segundo andar, onde moro, na
mesma Rua dos Douradores, representa para mim a Arte.
Sim, a Arte, que mora na mesma rua que a Vida, porém num
logar differente, a Arte que allivia da vida sem alliviar
de viver, que é tam monotona como a mesma vida, mas só
em logar differente. Sim, esta Rua dos Douradores compre-
hende para mim todo o sentido das coisas, a solução de
todos os enigmas, salvo o existirem enigmas, que é o que
não pode ter solução.


Identificação: bn-acpc-e-e3-2-1-91_0007_4_t24-C-R0150
Heterónimo: Não atribuído
Formato: Folha (13.7cm X 21.7cm)
Material: Papel
Colunas: 1
LdoD Mark: Com marca LdoD
Datiloscrito (black-ink) : Testemunho datiloscrito a tinta preta.
Data: 1931 (low)
Nota: LdoD, Texto escrito no recto de meia folha.
Fac-símiles: BNP/E3, 2-4r.1