L. do D. (continuação)
Ah, comprehendo! O patrão Vasques é a Vida. A Vida,
monotona e necessaria, mandante e desconhecida. Este ho-
mem banal representa a banalidade da Vida. Elle é tudo
para mim, por fóra, porque a Vida é tudo para mim por fó-
ra.
E, se o escriptorio da Rua dos Douradores representa
para mim a vida, este meu segundo andar, onde moro, na
mesma Rua dos Douradores, representa para mim a Arte.
Sim, a Arte, que mora na mesma rua que a Vida, porém num
logar differente, a Arte que allivia da vida sem alliviar
de viver, que é tam monotona como a mesma vida, mas só
em logar differente. Sim, esta Rua dos Douradores compre-
hende para mim todo o sentido das coisas, a solução de
todos os enigmas, salvo o existirem enigmas, que é o que
não pode ter solução.