Três dias seguidos de calor sem calma


Três dias seguidos de calor sem calma, tempestade latente no mal-estar da quietude de tudo, vieram trazer, porque a tempestade se escoasse para outro ponto, um leve fresco morno e grato à superfície lúcida das coisas. Assim às vezes, neste decurso da vida, a alma, que sofreu porque a vida lhe pesou, sente subitamente um alívio, sem que se desse nela o que o explicasse.

Concebo que sejamos climas, sobre que pairam ameaças de tormenta, noutro ponto realizadas ☐

A imensidade vazia das coisas, o grande esquecimento que há no céu e na terra...


Título: Três dias seguidos de calor sem calma
Heterónimo: Bernardo Soares
Número: 192
Página: 203
Nota: [2-28, dact.];