L. do D.
(nota)
A organização do livro deve basear-se numa escolha, rigida
quanto possivel, dos trechos variadamente existentes, adaptando,
porém, os mais antigos, que falhem à psychologia de B. S.,
tal
como agora surge, a essa vera psychologia. Àparte isso, ha que
fazer uma revisão geral do proprio estylo,
sem que elle perca,
na expressão intima, o devaneio e o desconnexo logico que o cha-
racterizam.
Ha que estudar o caso de se se devem inserir trechos grandes,
classificaveis sob titulos grandiosos, como a Marcha Funebre do
Rei Luiz Segundo da Baviera,
ou a Symphonia de uma Noite Inquieta.
Ha a hypothese de deixar como está o
trecho da Marcha Funebre,
e ha a hypothese de a transferir para
outro livro, em que ficassem os Grandes Trechos juntos.
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Somos morte. Isto, que consideramos vida, é o somno da vida
real, a morte do que verdadeiramente somos. Os mortos nascem,
não morrem. Estão trocados, para nós, os mundos. Quando julgamos
que vivemos, estamos mortos; vamos viver quando estamos moribun-
dos.
Aquella relação que ha entre o somno e a vida é a mesma que
ha entre o que chamamos ∧vida e o que chamamos morte. Estamos
dormindo, e esta vida é um sonho, não num sentido metaphorico ou
poetico, mas num sentido ∧verdadeiro
Tudo aquillo que em nossas actividades consideramos superior,
tudo isso participa da morte, tudo isso ∧é morte. Que é o ideal
senão a confissão de que a vida não serve? Que é a arte senão a
negação da vida? Uma estatua é um corpo morto, talhado ∧para fixar a morte, em materia
∧de in-
corrup-
ção. O mesmo prazer, que tanto parece uma immersão na vida, é antes
uma immersão em nós mesmos, uma destruição das relações entre nós
e a vida, uma sombra agitada da morte.
O proprio viver é morrer, porque não temos um dia a mais
na nossa vida que não tenhamos, nisso, um dia a menos
nella.
Povoamos sonhos, somos sombras errando atravez de flores-
tas impossiveis, em que as arvores são casas, costumes, idéas,
ideaes e philosophias.
∧Nunca encontrar Deus, nunca saber, sequer,
se Deus existe! Passar de mundo para
mundo, de incarnação para incarnação,
sempre na illusão que ∧acarinha, sempre
no erro que affaga.
∧A verdade nunca, a paragem
nunca! A união com Deus
nunca! Nunca inteiramente em
paz, mas sempre um pouco d'ella,
∧sempre o desejo
d'ella!