Prefácio Geral a FICÇÕES DO INTERLÚDIO | ... o traço constante de uma vida dispersa


... o traço constante de uma vida dispersa — a solidão que me acompanha sempre e por isso me define e sempre definiu.

De todas as formas com que o homem se entretém em viver, nenhuma /deveras/ me foi dada. Tenho passado pelas coisas como o espírito da minha vida, feito de outra matéria e pensando com o meu espírito, irmão gémeo da negação de mim mesmo.

... existo, sonho, não vejo. Traço pobre para a solidão. Este conceito, porém, é pensamento, e o conceito com que talhei os meus sonhos nem é pensamentos, nem, efectivamente, nem sequer é conceito.

Existo; melhor, existo-o.


Título: Prefácio Geral a FICÇÕES DO INTERLÚDIO | ... o traço constante de uma vida dispersa
Heterónimo: Bernardo Soares
Número: 746
Página: 601
Nota: [14(1)-38, ms.];
Nota: Teresa Sobral Cunha inclui este texto no conjunto de fragmentos intitulado 'Prefácio Geral a FICÇÕES DO INTERLÚDIO (fragmentos)' (2008: 595-601).