Semântica da Vida - Usa (BNP/E3, 144D(2)-43v-44r)

Desejaria construir um codigo


L. do D.

Desejaria construir um
codigo de inercia para os superiores
nas sociedades modernas.

A sociedade governar-se-hia es-
pontaneamente e a si-propria, se
não contivesse gente de sensibilidade e
de intelligencia. Acreditem que
é a unica cousa que a prejudica.
As sociedades primitivas tinham
uma feliz existencia mais ou
menos assim.

Pena é que a expulsão dos superiores
da sociedade resultaria em elles
morrerem, porque não sabem traba-
lhar. E talvez morressem de tedio, por
não haver espaços de estupidez entre
elles. Mas eu fallo do ponto de
cura da felicidade humana.

Cada superior que se manifestasse na
sociedade seria expulso para a Ilha a Cidade
dos superiores. Os superiores seriam
alimentados, como animaes em jaula,
pela sociedade normal.


Acreditem: se não houvesse gente
intelligente que apontasse os varios mal-estares
humanos, a humanidade não dava
por elles. E as creaturas de sensibi-
lidade fazem soffrer os outros por
sympathia.

Por emquanto, visto que vivemos
em sociedade, o unico dever dos
superiores é reduzir(em) ao minimo
a sua participação na vida da tribo.
Não lêr jornaes, ou lêl-os só para
saber o que de pouco importante e
curioso se passa; não
ninguém imagina a volupia que
arranco ao noticiario succinto
das provincias. Os meros nomes
abrem-me portas sobre o vago.


O supremo estado honroso para um
homem superior é não saber quem é
o chefe de estado do seu paíz, ou se
vive sob monarchia ou sob republica.

— Toda a sua attitude deve ser collocar -se a
alma de modo que a passagem das cousas,
dos acontecimentos não o incommode.
Se o não fizer terá que se interessar
pelos outros, para cuidar de si-proprio.