Que me pesa que ninguem leia o que escrevo


L. do D.

Que me pesa que ninguem leia o que escrevo? Escrevo-o para me distrahir de viver, e publico-o porque o jogo tem essa regra. Se amanhã se perdessem todos os meus escriptos, teria pena, mas, creio bem, não com pena violenta e louca como seria de suppor, pois que em tudo isso ia toda a minha vida. [...]

A grande terra, que serve os montes, serviria, menos maternalmente, esses papeis. Tudo não importa e creio bem que houve quem visse a visa sem uma grande paciencia para essa creança [...] e com grande desejo do socego de quando ella, enfim, se tenha ido deitar.


Título: Que me pesa que ninguem leia o que escrevo
Heterónimo: Bernardo Soares
Volume: II
Número: 506
Página: 251 - 252
Nota: [3-2, ms.];