Trovoada


L. do D.

Trovoada

Este ar baixo de nuvens paradas. O azul do ceu estava sujo de branco transparente.

O moço, ao fundo do escriptorio, suspende um minuto o cordel à roda do embrulho eterno...

"Como está […]," commenta estatisticamente.

Um silencio frio. Os sons da rua como que foram cortados à faca. Sentiu-se, prolongadamente, como um mal-estar de tudo, um suspender cósmico da respiração. Parara o universo inteiro. Momentos, momentos, momentos. A treva encarvoou-se de silencio.

Subito, aço vivo (...)

Que humano era o toque metallico dos electricos! Que paysagem alegre a simples chuva na rua ressuscitada do abysmo!

Oh, Lisboa, meu lar!


Título: Trovoada
Heterónimo: Bernardo Soares
Volume: I
Número: 59
Página: 65
Nota: [3-30-31, ms.];