TROVOADA


TROVOADA

Entre onde havia nuvens paradas, o azul do céu estava sujo de branco transparente.

O moço, ao fundo do escritório, suspende um momento o cordel à roda do embrulho eterno...

"Como está só me lembra de uma", comenta estatisticamente.

Um silêncio frio. Os sons da rua como que foram cortados à faca. Sentiu-se, prolongadamente, como um mal-estar de tudo, um suspender cósmico da respiração. Parara o universo inteiro. Momentos, momentos, momentos. A treva encarvoou-se de silêncio.

Súbito, aço vivo, ☐

Que humano era o toque metálico dos eléctricos! Que paisagem alegre a simples chuva na rua ressuscitada do abismo!

Oh, Lisboa, meu lar!


Título: TROVOADA
Heterónimo: Bernardo Soares
Número: 74
Página: 109
Nota: [3-30-31, ms.];