Se a nossa vida fosse


            L. do D.

Se a nossa vida fosse um eterno estar-á-
janella, se assim ficassemos, como
um fumo parado, sempre, tendo sempre
o mesmo momento de crepusculo dolorin-
do a curva dos montes. Se assim ficasse-
mos para além de sempre! Se ao
menos, aquém da impossibilidade,
assim pudessemos quedar-nos, sem
que comettessemos uma acção,
sem que os nossos labios pallidos lividos pe-
cassem mais palavras!

Olha como vae escurecendo!... O
socego positivo de tudo enche-me
de raiva, de qualquér cousa que
é o travo no sabôr da aspiração.
Dóe-me a alma... Um traço lento
de fumo ergue-se e dispersa-se lá
longe... Um tedio inquieto faz-me
não pensar mais em ti...

Tão superfluo tudo! nós e o mundo
e o mysterio de ambos.

               


Identificação: bn-acpc-e-e3-5-1-85_0001_1_t24-C-R0150
Heterónimo: Não atribuído
Formato: Folha (20.8cm X 13.5cm)
Material: Papel
Colunas: 1
LdoD Mark: Com marca LdoD
Manuscrito (pen) : Testemunho manuscrito a tinta preta, com revisões a lápis.
Data: 1913 (low)
Nota: LdoD, Texto escrito no recto de uma folha de papel quadriculado. O testemunho 5-1 constitui, juntamente com o fragmento 5-2, a metade superior de um bifólio quadriculado.
Fac-símiles: BNP/E3, 5-1r.1