Em mim foi sempre menor a intensidade


L do D

Em mim foi sempre menor a intensidade das sensações
que a intensidade da consciencia sensação d'ellas. Soffri sempre
mais com a consciencia de estar soffrendo que com o soffri-
mento de que tinha havia consciencia.

A vida das minhas emoções mudou-se, de origem, para
as salas a séde do pensamento, e alli vivi sempre mais ampla-
mente o conhecimento emotivo da vida.

E como o pensamento, quando alberga a emoção, se torna
mais exigente que ella, o regimen de consciencia, em que
passei a viver o que sentia, tornava-me mais quotidiana,
mais epidermica, mais titillante a maneira como sentia.
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Creei-me echo e abysmo, pensando. Multipliquei-me
aprofundando-me. O mais pequeno episodio — uma alteração sahindo
da luz, a queda enrolada de uma folha secca, a petala que se
despega amarellecida, a voz do outro lado do muro ou os passos de
quem a diz juntos aos de quem a deve escutar, o portão entre-
aberto da quinta velha, o pateo
abrindo com um arco das casas agglomeradas ao luar — todas estas cousas,
que me não pertencem, prendem-me a meditação sensivel com laços de
ressonancia e de saudade. Em cada uma d'essas sensações sou outro,
renovo-me dolorosamente em cada impressão indefinida.

Vivo de impressões que me não pertencem, perdulario de
renuncias, outro no modo como sou eu.
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Nada ha a esperar das
classes dirigentes, por[que] não
são dirigentes; e ainda menos
da proletariagem, porque
ser inferior não é uma
superioridade. Com razão lhes
chamei eu, a estes, sub-
gente, num artigo da antiga Aguia
da Aguia que voava.

Só a burguesia,
que é a ausencia da classe
social, pode crear o futuro.
Só de uma classe que não ha pode nascer uma classe
que não há ainda.

Avancemos confiadamente. Todos os
caminhos vão dar á ponte,
quando o rio não tem nenhuma.

Ser tudo, de todas as
maneiras, porque a verdade
não pode estar em
faltar ainda alguma
cousa. Creemos assim
o paganismo superior, o
politheismo transcendente.
Na eterna mentira de todos
os deuses, só os deuses
todos são verdade.
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Elevar ao auge o espirito
anti-portuguez do portuguez, por onde elle
se affirma portuguez a valer. Ser mos tudo,
visto que mais nenhum povo
o soube ser, por[que] não
podia.

Os unicos occultistas que sabem
o nosso futuro são o Bandarra e
Nostradamo e ambos são firmes em nos
anunciar o Quinto Imperio, [ileg.]
por não haver mais que importe.


Identificação: bn-acpc-e-e3-5-1-85_0037_19_t24-C-R0150 | bn-acpc-e-e3-5-1-85_0038_19v_t24-C-R0150
Heterónimo: Não atribuído
Formato: Folha (27.7cm X 21.5cm)
Material: Papel
Colunas: 1
LdoD Mark: Com marca LdoD
Manuscrito (pencil) : Testemunho manuscrito a lápis no recto.
Manuscrito (pen) : Testemunho manuscrito a tinta preta na frente.
Data: 1917 (low)
Nota: LdoD, Texto escrito em recto e verso de uma folha inteira.
Fac-símiles: BNP/E3, 5-19r.1 , BNP/E3, 5-19r.2