Dois, trez dias de semelhança


L. do D.

Dois, trez dias de semelhança de principio de amor...

Tudo isto vale para o estheta pelas sensações que lhe causa. Avançar mais seria entrar no dominio onde começa o ciume, o soffrimento, a excitação. Nesta antecamara da emoção ha toda a suavidade do amor sem a sua profundeza — um goso leve, portanto, aroma vago de desejos, e, se com isso se perde a grandeza que ha na tragedia do amor, repare-se que, para o estheta, as tragedias são cousas interessantes de observar, mas incommodas de soffrer. O proprio cultivo da imaginação é prejudicado pelo da vida. Reina quem não está entre os vulgares.

Afinal, isto bem me contentaria, se eu conseguisse persuadir-me que esta theoria não é o que é, um complexo barulho que faço aos ouvidos da minha intelligencia para ella não perceber que, no fundo, não ha senão a minha timidez, a minha incompetencia para a vida.


Título: Dois, trez dias de semelhança
Heterónimo: Não atribuído
Número: 96
Página: 107
Data: 1915 (low)
Nota: [5-78r];