Dois, trez dias de semelhança


          L. do D.

Dois, trez dias de semelhança de principio
de amor...

Tudo isto vale para o estheta pelas sensações
que lhe causa. Avançar mais seria entrar
no dominio onde começa o ciume, o sof-
frimento, a excitação. Nesta antecamara
da emoção ha toda a suavidade do amor
sem a sua profundeza — um goso leve, por-
tanto, aroma vago de desejos, e, se com
isso se perde a grandeza que ha na
tragedia do amor, repare-se que,
para o estheta, as tragedias são cousas
interessantes de observar, mas incom-
modas de soffrer. O proprio cultivo da
imaginação é prejudicado pelo da vida.
Reina quem não está entre os vulgares.

Afinal, isto bem me contentaria
se eu conseguisse persuadir-me que esta
theoria não é o que é, um complexo barulho
que faço aos ouvidos da minha intelligencia
para ella não perceber que, no fundo, não
ha senão a minha timidez, a minha incompetencia
para a vida.


Identificação: bn-acpc-e-e3-5-1-85_0146_73_t24-C-R0150 | bn-acpc-e-e3-5-1-85_0147_73v_t24-C-R0150
Heterónimo: Não atribuído
Formato: Folha (22.5cm X 17.1cm)
Material: Papel
Colunas: 1
LdoD Mark: Com marca LdoD
Manuscrito (pen) : Testemunho manuscrito a tinta preta.
Data: 1915 (low)
Nota: LdoD, Texto escrito no verso de um envelope com o timbre “F.A. PESSOA | RUA S.JULIÃO, 41, 3-º | LISBOA | RUA DO OURO, 87,2.º”.
Fac-símiles: BNP/E3, 5-78r.1 , BNP/E3, 5-78r.2