L. do D.
A vida practica sempre me pareceu o menos commodo dos
suicidios. Agir foi sempre para mim a condemnação violenta
do sonho injustamente condemnado. Ter influencia no mundo
exterior, alterar cousas, transpôr entes, influir em gente —
tudo isto pareceu-me sempre de uma substancia mais nebulosa
que a dos meus devaneios. A futilidade immanente de todas
as formas da acção foi, desde a minha infancia, uma das medi-
tações mais queridas do meu desapego até de mim.
Agir é reagir contra si-proprio. Influenciar é sahir
de casa.
Sempre que meditei como era absurdo que, onde a realida-
de substancial é uma serie de sensações, houvesse cousas tão
complicadamente simples como commercios, industrias, relações
sociaes e familiares, tão desoladoramente incomprehensiveis
perante a attitude interior da alma para com a idéa de verda-
de.