A vida practica sempre me pareceu


L. do D.

A vida practica sempre me pareceu o menos commodo dos
suicidios. Agir foi sempre para mim a condemnação violenta
do sonho injustamente condemnado. Ter influencia no mundo
exterior, alterar cousas, transpôr entes, influir em gente —
tudo isto pareceu-me sempre de uma substancia mais nebulosa
que a dos meus devaneios. A futilidade immanente de todas
as formas da acção foi, desde a minha infancia, uma das medi-
tações mais queridas do meu desapego até de mim.

Agir é reagir contra si-proprio. Influenciar é sahir
de casa.

Sempre que meditei como era absurdo que, onde a realida-
de substancial é uma serie de sensações, houvesse cousas tão
complicadamente simples como commercios, industrias, relações
sociaes e familiares, tão desoladoramente incomprehensiveis
perante a attitude interior da alma para com a idéa de verda-
de.


Identificação: bn-acpc-e-e3-7-1-50_0069_34_t24-C-R0150
Heterónimo: Não atribuído
Formato: Folha (13.8cm X 21.1cm)
Material: Papel
Colunas: 1
LdoD Mark: Com marca LdoD
Datiloscrito (violet-ink) : Testemunho datilosctrito a tinta roxa
Data: 1914 (low)
Nota: LdoD, Texto escrito no recto de meia folha.
Fac-símiles: BNP/E3, 7-34r.1