Com um charuto caro


                L. do D.

Com um charuto caro e os olhos fechados é ser
rico.

Como quem visita um logar onde passou
a juventude, comsigo, com um cigarro barato,
regressar inteiro ao logar (tempo) da minha vida
em que era meu uso fumal-os. E atravez
do sabor leve do fumo todo o passado revive-
me.

Outras vezes será um certo doce. Um sim-
ples bombom de chocolate escangalha-me
ás vezes os nervos com o excesso de recordações
que os estremece. A infancia! E entre os
meus dentes que se cravam na massa escura
e macia, trinco e gósto as minhas humildes
felicidades de companheiro alegre de soldados de chumbo, de
cavalleiro congruente com a canna casual meu
cavallo. Sobem-me as lagrimas aos olhos e junto com
o sabor do chocolate mistura-se ao meu
sabor a minha felicidade passada, a minha in-
fancia ida, e pertenço voluptuosamente á
suavidade da minha dôr.

Nem por simples é menos solenne este
meu ritual do no paladar.

Mas é o fumo do cigarro o que mais espiritualmente
me reconstroe momentos passados. Elle apenas roça a minha


consciencia de ter paladar. Porisso mais em gaze e transparencia me evoca as
horas que morri, mais longinquas as faz presentes, mais nevoentas quando me envolvem,
mais ethereas quando as corporizo. Um cigarro inaceitavel, um charuto barato toldam de suavidade


alguns meus momentos. Com que
subtil plausibilidade de sabor-aroma
reergo os scenarios mortos e represento outra
vez as comedias do meu passado, tão
seculo dezoito sempre pelo afasta-
mento malicioso e cançado, tão
medievaes sempre pelo inevitavel-
mente perdido.


                                                  Garcia Pulido
                                                  J. Lebre e Lima
— E o X., como está? o que faz?
— Nada que eu saiba. Está pr'a ahi...
— X. Olha Ella ainda é continua a ser sendo descendente de Nun'Alvares Pereira?
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— O n/ J. M. C. seria um dos n/ mais criticos senão fora um dos n/ mais
bebados.
— O n/ FP seria um dos n/ mais paulicos senão fôra um dos n/ mais
timidos.

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                                        20-XI-14 (early morning)
Como quem, roçando um arco ás vezes
        Por um violino, ao acaso,
Subito som excessivamente bello e saudoso
        Ouve-se, e não se pode encontrar outra vez,

Ás vezes, sou certos gestos subitos do Momento,
        Gemo inesperadas sensações...
E são um tedio repentino á cor e á hora das cousas
E uma lamuria e longinqua paixão de não estar no mundo.


Arvores longinquas que esperaram por mim desde Deus....
Paysagens mais perto da alma... Ou São grandes pallios
Em procissões interminavelmente a mesma...
Levando-me n'um triumpho de cousa nenhuma, somnolento e voluptuoso,
E perdido fico do Tempo como um momento em
                    que se não pensa em nada…
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Duke (to Nuno): Something impossible is behind me (just left behind me) has sometimes happened and I was part of it
I feel so dead that I feel a child again. I have aged suddenly in some strange way. Ay, All is going smaller & smaller, & older
& older...
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Duke (to A)... "I was a child there (castle)"
(trees-scene) : "Oh, when I was but a child…" (stops and shakes his head
                                        [ileg.] [ileg.] this)
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Identificação: bn-acpc-e-e3-9-1-52_0015_6v_t24-C-R0150 | bn-acpc-e-e3-9-1-52_0014_6_t24-C-R0150
Heterónimo: Não atribuído
Formato: Folha (27.4cm X 21.4cm)
Material: Papel
Colunas: 1
LdoD Mark: Com marca LdoD
Manuscrito (pencil) : Testemunho manuscrito a lápis no recto e a tinta preta no verso.
Data: 21-10-1931 (medium)
Nota: LdoD, Texto escrito sobre uma folha pautada. Segundo Pizarro, o recto e o verso foram escritos em momentos distintos e afastados no tempo. O texto do recto será de circa de 21-10-1931. O verso contém uma série de diálogos, um poema de 20-11-1914, e um fragmento de “Duke of Parma”. Esse poema e outros “versos incompletos” não são necessariamente atribuíveis a Bernardo Soares. No canto superior direito leem-se os nomes de "[Domingos] Garcia Pulido” e "J[oão] [de] Lebre e Lima" (2010: 883).
Fac-símiles: BNP/E3, 9-6.1 , BNP/E3, 9-6.2