O prazer de nos elogiarmos


O prazer de nos elogiarmos a nós próprios...

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PAISAGEM DE CHUVA

Cheira-me a frio, a mágoa, a serem impossíveis todos os caminhos para a ideia de todos os ideais.

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As mulheres contemporâneas tais arranjos do seu porte e do seu vulto talham, que dão uma dolorosa impressão de efémeras e de insubstituíveis...

Os seus ☐ e adereços tais as [a]linham e coloram, que mais decorativas se tornam do que carnalmente viventes. Frisos, painéis, quadros — não são, na realidade da vista, mais do que tanto...

O mero voltear dum xaile para cima dos ombros usa hoje mais consciência à visão do gesto em quem o faz do que antigamente. Dantes o xaile era parte do traje; hoje é um detalhe resultante de intuições de puro senso estético.

Assim, nestes nossos dias, tão vívidos através de fazerem tudo arte, tudo arranca pétalas ao consciente e se integra ☐ em volubilidades de extático.

Trânsfugas de quadros não feitos essas figuras femininas todas... Há por vezes detalhes a mais nelas... Certos perfis existem com exagerada nitidez. Brincam a irreais pelo excesso com que se separam, linhas puras, do ambiente fundo.


Título: O prazer de nos elogiarmos
Heterónimo: Bernardo Soares
Número: 309
Página: 296 - 297
Nota: [9-51, ms.];