Não fizeram, Senhor, as vossas naus viagem mais
primeira que a que o meu pensamento, na derrota
d'este livro, conseguiu. Cabo não dobraram, nem
praia viram mais affastada, tanto da auda-
cia dos audazes, como da imaginação dos por ousar,
egual aos cabos que dobrei com a
minha meditação, e ás praias ∧a que, com o meu
, fiz aportar o meu exforço.
Por vosso inicio, Senhor, se descobriu o Mundo
Real; por meu ∧o o Mundo Intellectual se descobrirá.
Arcaram os vossos argonautas com monstros e medos.
Tambem, na viagem do meu pensamento, tive monstros e medos
com que arcar. No caminho para o abysmo abstracto,
que está no fundo das cousas, ha horrores, que passar,
que os homens do mundo não imaginam, e medos que
ter que a experiencia humana não conhece; é mais
humano talvez o caminho para o logar indefinido do mar
commum do que a senda abstracta para o
vacuo do mundo.
Eu, longe dos caminhos de mim-proprio, cego
da visão da vida que amo,
Cheguei por fim, tambem, ao extremo
vazio das cousas, á borda imponderavel do
limite dos entes, á porta sem logar do abysmo
abstracto do Mundo.
Entrei, Senhor, essa Porta. Vaguei, Senhor, por
esse mar. Contemplei ∧Fitei, Senhor, esse ∧invisivel abysmo ∧abysmo que se não pode ver.
Ponho esta obra de Descoberta suprema na invoca-
ção do vosso nome portuguez, ∧creador de argonautas.