Edição do Arquivo LdoD - Usa (BNP/E3, 28-12)

Não fizeram, Senhor


Não fizeram, Senhor, as vossas naus viagem mais
primeira que a que o meu pensamento, na derrota
d'este livro, conseguiu. Cabo não dobraram, nem
praia viram mais affastada, tanto da auda-
cia dos audazes, como da imaginação dos por ousar,
egual aos cabos que dobrei com a
minha meditação, e ás praias a que, com o meu
                  , fiz aportar o meu exforço.

Por vosso inicio, Senhor, se descobriu o Mundo
Real; por meu o o Mundo Intellectual se descobrirá.


Arcaram os vossos argonautas com monstros e medos.
Tambem, na viagem do meu pensamento, tive monstros e medos
com que arcar. No caminho para o abysmo abstracto,
que está no fundo das cousas, ha horrores, que passar,
que os homens do mundo não imaginam, e medos que
ter que a experiencia humana não conhece; é mais
humano talvez o caminho para o logar indefinido do mar
commum do que a senda abstracta para o
vacuo do mundo.


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Apartados do uso dos seus lares, exues do
caminho das suas casas, viúvos para sempre da brandura de a vida ser a mesma, chegaram por fim os vossos
emissarios, vós já morto, ao extremo oceanico
da Terra. Viram, no material, um
novo ceu e uma terra nova.

Eu, longe dos caminhos de mim-proprio, cego
da visão da vida que amo,                    

Cheguei por fim, tambem, ao extremo
vazio das cousas, á borda imponderavel do
limite dos entes, á porta sem logar do abysmo
abstracto do Mundo.

Entrei, Senhor, essa Porta. Vaguei, Senhor, por
esse mar. Contemplei Fitei, Senhor, esse invisivel abysmo abysmo que se não pode ver.

Ponho esta obra de Descoberta suprema na invoca-
ção do vosso nome portuguez, creador de argonautas.