e as algas como molhados cabellos




e as algas como molhados cabellos empastando o rosto morto
das aguas.

Um som suave de rio largo, uma indecisa frescura
aquatica, uma saudade audivel, occulta, um marulho
morto de movimento —

Leves, leves as sombras calmas.

A noite era cheia d'aquellas pequenas nuvens
muito brancas, que se destacam umas das outras como
                  . Vista atravez de uma ou da outra
d'ellas, a lua tinha em seu torno um halo azul, cas-
tanho e amarello, com uns tons suppostos de verde vago.
Entre as arvores o ceu era de um azul negro profun-
dissimo, longinquo, irrevogavel. As estrellas viam-se
ora atravez das nuvens, ora, muito longe, nas [ileg.]
entre ellas. Uma saudade de cousas idas, de grandes
passados da alma, talvez porque em /re/incarnações antigas, olhos
nossos, no corpo physico, houvesse visto este luar sobre
florestas longinquas, quando, selvatica ainda, a alma
infanta talvez pressentisse, por uma memoria em Deus, ao contrario, no futuro das suas reincar-
nações, esta lua retrospectiva. E assim essas doces
horas davam mãos de sombra por sobre a minha cabeça abatida.


Identificação: bn-acpc-e-e3-94-1-100_0201_99_t24-C-R0150
Heterónimo: Não atribuído
Formato: Folha (27.0cm X 22.6cm)
Material: Papel
Colunas: 1
LdoD Mark: Sem marca LdoD
Manuscrito (pen) : Testemunho manuscrito a tinta roxa.
Data: 1915 (low)
Nota: , Texto escrito no recto de uma folha quadriculada. Na metade inferior do lado direito da folha, falta ao testemunho um pequeno pedaço de papel que continha uma palavra.
Fac-símiles: BNP/E3, 94-99r.1