Entre a vida theorica


Entre a vida theorica e a vida
practica ha um abysmo, sobre
o qual alguns, mais indivi-
duaes, não-sociaes, são ponte.
Manda quem quere, servo de
pensamentos dispersos, ano-
nymos, que por taes não
são pensamentos.

Deixemos a acção áquelles
que pensam pela cabeça
alheia, poisque existem só
para agir. Recolhamo-nos
no jogo alado, futil até,
das theorias, desilludidos de
qualquer possibilidade de
podermos agir sobre os ou-
tros, de sermos mais na
vida que forasteiros.

Desdenhadores de todos os ideaes,
sobretudo dos que buscam a
felicidade na terra para
os outros — pois a felicidade
não pode ser ideal senão

para nós — vivamos separados, como os outros
iniciados, os da alma (para além da intelligencia),
que nada, tambem, querem ou esperam da vida. Assim

o ironista seguirá a par do adepto,
entre as ruinas do templo de Salomão, e
por aquelle plaino proximo onde, um tempo,
o Mestre esteve sepulto.


Identificação: bn-acpc-e-e3-138a-1-82_0029_15_t24-C-R0150
Heterónimo: Não atribuído
Formato: Folha (21.5cm X 13.9cm)
Material: Papel
Colunas: 1
LdoD Mark: Sem marca LdoD
Manuscrito (pen) : Testemunho manuscrito a tinta azul.
Nota: , Texto escrito em recto e verso de meia folha. Texto publicado por Richard Zenith em "Escritos Autobiográficos, Automáticos e de Reflexão Pessoal" (2003: 358).
Fac-símiles: BNP/E3, 138A-15.1