Trez cousas tem o homem superior


Trez cousas tem o homem superior
que ensinar-se a esque-
cer para que possa gosar no
perfeito silencio a sua superior-
idade — o ridiculo,
o trabalho e a dedicação.
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Como não se dedica a ninguem,
tambem nada exige da dedicação
alheia. Sobrio, casto, frugal, tocando
o menos possivel na vida, tanto para
não se incommodar como para não
aproximar as cousas de mais, a
ponto de destruir nellas a capacidade
de serem sonhadas, elle isola-se por
conveniencia do orgulho e da des-
illusão. Aprende a sentir tudo sem
o sentir directamente, porque sentir di-
rectamente é submetter-se — submetter-se
á acção da cousa sentida.


O maior triumpho do homem
é quando se convence de
que o ridiculo é uma cousa
sua que existe só para os outros,
e, mesmo, sempre que outros queiram.
Elle então deixa de importar-se
com o ridiculo, que, como
não está em si, elle não
pode matar.


Identificação: bn-acpc-e-e3-138-1-100_0186_91v-R0150 | bn-acpc-e-e3-138-1-100_0185_91-R0150
Heterónimo: Não atribuído
Formato: Folha (10.3cm X 13.4cm)
Material: Papel
Colunas: 1
LdoD Mark: Sem marca LdoD
Manuscrito (pen) : Testemunho manuscrito a tinta preta.
Nota: , Texto escrito em recto e verso de meia folha. Apenas Teresa Sobral Cunha inclui este texto no corpus do "Livro do Desassossego".
Fac-símiles: BNP/E3, 138-91.1 , BNP/E3, 138-91.2