Jacinto do Prado Coelho - edição anotada - Usa Jacinto do Prado Coelho(398)

Viagem nunca feita (b)


Viagem nunca feita

E assim escondo-me atraz da porta, para que a Realidade, quando entra, me não veja. Escondo-me debaixo da meza, d'onde, subitamente, prego sustos à Possibilidade. De modo que desligo de mim como aos dois braços de um amplexo, os dois grandes tédios que me apertam — o tédio de poder viver só o Real, e o tédio de poder conceber só o Possivel.

Triunfo assim de toda a realidade. Castellos de areia, os meus triunphos?... De que cousa essencialmente divina são os castellos que não são de areia?

Como sabeis que, viajando assim, não me segui [?] obscuramente?

Infantil de absurdo, revivo a minha meninice, e / brinco com as idéas das cousas como com soldados de chumbo com os quaes eu, quando menino, fazia cousas que embirravam com a idéa de soldado./

Ebrio de erros, perco-me por momentos de sentir-me viver.