A doçura de não ter familia


L. do D.

A doçura de não ter familia nem companhia, esse suave
gosto como o do exilio, em que sentimos o orgulho do
desterro esbater-nos em volupia incerta a vaga inquieta-
ção de estar longe — tudo isto eu góso a meu modo, indif-
ferentemente. Porque um dos detalhes caracteristicos da
minha attitude espiritual é que a attenção não deve ser
cultivada exaggeradamente, e mesmo o sonho deve ser olha-
do do alto, com uma consciencia aristocratica d[e] o estar
fazendo existir. Dar demasiada importancia ao sonho seria
dar demasiada importancia, afinal, a uma cousa que se
separou de nós proprios, que se ergueu, conforme poude,
em realidade, e que, porisso, perdeu o direito absoluto
á nossa delicadeza para com ella.


As figuras imaginarias teem mais relevo
e verdade que as reaes.

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O meu mundo imaginario foi sempre
o unico mundo verdadeiro para mim.
Nunca tive amores tão reaes, tão
cheios de verve de sangue e de vida como
os que tive com figuras que eu proprio criei.
Que horas! Tenho saudades d'ellas, porque,
como os outros, passam...


Identificação: bn-acpc-e-e3-7-1-50_0005_3_t24-C-R0150
Heterónimo: Não atribuído
Formato: Folha (16.4cm X 11.0cm)
Material: Papel
Colunas: 1
LdoD Mark: Com marca LdoD
Manuscrito (pen) : Testemunho manuscrito a tinta preta no verso.
Datiloscrito (black-ink) : Testemunho datiloscrito a tinta preta no recto.
Data: 1915 (low)
Nota: LdoD, Texto escrito em recto e verso de um quarto de folha de papel almaço, semelhante a folhas de papel com a marca de água "ALMAÇO PRADO" (cf. 5-53-54).
Fac-símiles: BNP/E3, 7-11.1 , BNP/E3, 7-11.2