Jacinto do Prado Coelho - edição anotada - Usa Jacinto do Prado Coelho(460)

Absurdo


L. do D.

Absurdo

Tornármo-nos esphynges, ainda que falsas, até chegarmos ao ponto de já não sabermos quem somos. Porque, de resto, nós o que somos é esphynges falsas e não sabemos o que somos realmente. O unico modo de estarmos de accordo com a vida é estarmos em desaccordo com nós-próprios. O absurdo é (o) divino.

Estabelecer theorias, pensando-as paciente e honestamente, só para depois agirmos contra ellas — agirmos e justificar as nossas acções com theorias que as condemnam — talhar um caminho na vida, e em seguida agir contrariamente a seguir por esse caminho. Ter todos os gestos e todas as attitudes de qualquer cousa que nem somos nem pretendemos ser, nem pretendemos ser tomados como sendo.

Comprar livros /para/ não os lêr; ir a concertos nem para ouvir a musica nem para vêr quem lá está; dar longos passeios por estar farto de andar e ir passar dias no campo só porque o campo nos aborrece.