Absurdo


L. do Des.
            Absurdo

Tornarmo'-nos esphynges, ainda que
falsas, até chegarmos ao
ponto de já não sabermos quem o que so-
mos. Porque, de resto verdade, nós o que somos é
esphynges falsas e não sabemos o que
somos realmente. O unico
modo de estarmos de accordo com
a vida é estarmos em desaccordo
com nós-proprios. O absurdo
é (o) divino.

Estabelecer theorias, pensando-as
paciente — e honestamente, só
para depois agirmos contra ellas —
agirmos e justificar as nossas acções
com theorias que as condemnam —...


Talhar um caminho na vida, e
em seguida agir contrariamente
a seguir por esse caminho. Ter todos
os gestos e todas as attitudes de
qualquér cousa que nem somos
nem pretendemos ser, nem pretendemos
ser tomados como sendo.

Comprar livros para não
os lêr; ir a concertos nem
para ouvir a musica nem
para vêr quem lá está; dar
longos passeios por estar farto
de andar e ir passar dias
no campo só porque o campo
nos aborrece.


Identificação: bn-acpc-e-e3-7-1-50_0089_44_t24-C-R0150 | bn-acpc-e-e3-7-1-50_0090_44v_t24-C-R0150
Heterónimo: Não atribuído
Formato: Folha (16.0cm X 12.8cm)
Material: Papel
Colunas: 1
LdoD Mark: Com marca LdoD
Manuscrito (pen) : Testemunho manuscrito a tinta preta.
Data: 1914 (low)
Nota: LdoD, Texto escrito em recto e verso de uma folha pautada, com cercadura preta.
Fac-símiles: BNP/E3, 7-44.1 , BNP/E3, 7-44.2